sábado, 4 de abril de 2009

Ciclo

O décimo oitavo dia do mês já se aproximava e tudo que lhe vinha à cabeça era:

- Onde será o lugar mais perto pra comprar aquela barra de chocolate ao leite???

E assim seguiu abrindo a geladeira repetidas vezes, os armários, revirava os enlatados e até os pacotes de miojo no fundo da gaveta.

- Que merda! Nenhum doce! Nenhum chocolate... - E assim resmungando, continuou procurando por qualquer item glicosado.

Acendia mais um cigarro. Apagava. Escutava uma música, lia um pouco do jornal, reparava no ponteiro do relógio passar. Aliás, tudo passava... menos a vontade do maldito derivado do cacau.

A preguiça era maior do que sua gula. Só de ter que pensar em trocar de roupa (seus trapos caseiros não condiziam com um possível encontro ao acaso numa esquina qualquer, com um moço formoso....), tirar dinheiro no banco e talvez esperar aquele velhinho que resolve ir pagar a conta na sexta feira à noite desocupar o caixa eletrônico, andar até a rua seguinte, ir para o supermercado, enfrentar a gigantesca fila que se forma atrás da atendente lerda (que se recusa a dar um único sorriso)....

- Ai, definitivamente não! Sem condições dessa peregrinação por um mísero chocolate.

Pronto. estava irredutível. Ficaria em casa se corroendo com sua vontade que ia crescendo cada vez mais. Mas tudo bem.... o dia já estava terminando e tudo que tinha que fazer, era esperar o sono chegar, para que junto a ele adormecesse sua compulsão pela tal gordura hidrogenada.

A porta do quarto ao lado se abriu. Sua amiga havia acordado. Arrastou o pé pelo corredor, pegou a toalha no varal com os olhos ainda inchados de dormir, tomou banho, trocou de roupa, escovou os dentes, pegou a chave para abrir a porta e disse:

- Querida, estou morrendo de fome e vou ao mercado. Quer alguma coisa lá de baixo?

E assim se fechava mais um ciclo hormonal.

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