quinta-feira, 1 de julho de 2010

Carta para o amor eterno (com a sensação de que eu podia ter dito muito mais)

"Carlos, eu tenho um monte de coisas pra te dizer e hoje eu decidi que vou expurgar da minha garganta esses demônios a seu respeito. Carlos, você é um ser que, olha, eu não sei nem por onde começar, mas você me dá nos nervos. A começar pelo seu emprego, sabe. Que merda de trabalho é esse, Carlos?! Já te botaram pra trabalhar um mês inteiro sem folga, com uma jornada de trabalho monstruosa, que te suga, e você abaixa a cabeça e diz "sim". Carlos, tudo bem, é o SEU trabalho e longe de mim ser idealista, só que assim não dá. Você vive sendo explorado. E o pior, Carlos, você não tem ambição. Aceita tudo como se tivesse de ser assim e ponto. Tá sempre cansado, com dor de cabeça. Carlos, eu não me lembro da última vez que te vi disposto. Óbvio que o cansaço e as dores de cabeça não se devem apenas ao trabalho, mas às suas ressacas homércias. Carlos, não bastasse o seu trabalho pra te destruir, você bebe horrores! Você arranja assunto não sei de onde pra não sair do bar com seus amigos ébrios. Eu me sentia culpada em transar com você. Chegávamos em casa às 3am, enquanto você tinha que acordar às 7am. E transávamos. Depois você perdia o sono. Você não é como os outros homens que depois do gozo apagam. Você, ao contrário, perde o sono. É claro que eu gostava de ter alguém pra me amparar do sexo, depois do sexo. A gente conversava, e eu também perdia o sono. Mas o fato é que Carlos, você pouco dorme, mas parece que você vive num sono profundo, porque você não se dá conta de nada. Carlos, além de beber, você fuma com-pul-si-va-men-te. Você é uma chaminé ambulante, Carlos! Você fica ansioso quando ainda faltam cinco cigarros pro seu maço acabar! Carlos, você fuma mais que todos os seus amigos JUNTOS. O meu cabelo, eu mal posso aproveitar o cheiro de shampoo, que fica logo todo impregnado com esse fedor de fumaça. Eu fico sufocada, Carlos, mesmo. E você pouco se importa, você nem faz o esforço de fumar sequer um cigarro a menos. Foda-se o meu bem-estar. E além de fumar cigarros lícitos, você fuma os ilícitos também. E parece que você está constantemente emaconhado, numa leseira interminável. Eu me pergunto, Carlos, quando você vai acordar. Você fuma, mija e CHEIRA todo o seu salário de miséria. Carlos, seu pai ainda paga tua conta de celular, que eu tenho certeza, não sai barata, essas tarifas são um abuso. Outra coisa que me incomodava: teu bairro. Teu bairro fedia a amônia. Ok, vou ser mais clara: urina, era mijo puro a tua rua. Teu prédio, também, nada me agradava. Eu tinha nojo dos seus vizinhos. Nunca vi ter tanta velha e gorda num prédio só! Todo o mundo lá era louco. E eu vivia desconfiada de que o povo ouvia a gente transando. Porque, sabe, eu me preocupava com minha performance. Fazia gemidos dignos de filmes pornôs, e dos bons, hein. Eu sei que você gostava. Mas não me sai da cabeça que aquele seu vizinho maratonista-wannabe ficava com os ouvidos grudados na parede pra ouvir. Ah! AHAHAHAAHA Lembrei do dia em que a gente quebrou a cama. Ainda tá quebrada, Carlos? As outras sabem o motivo? Quantas você já comeu naquela cama? Aliás, você já consertou aquela infiltração na parede do quarto? Olha que um dia aquela parede ainda cai bem na hora em que você estiver comendo uma louca qualquer, tô te dizendo. Era horrível dormir naquela cama cheirando a mofo, aquela umidade digna de presídio. O concreto se desmontando sobre minhas pernas. Um dia qualquer aquela parede cai e você vai se deparar com seu vizinho bem do ladinho dela ouvindo os gemidos fingidos de uma louca qualquer. Tá, eu fingia. Sim, TODAS as vezes, absolutamente todas. Não, eu não sou frígida. Às vezes eu até te dizia a verdade "Não, amor, não cheguei lá, mas foi ótimo mesmo assim", pra fazer com que as vezes em que eu fingisse ter chegado "lá" fossem mais verdadeiras. Eu nunca soube quando você acreditava ou não em mim, então não fazia muita diferença mentir ou dizer a verdade sobre certas coisas. Mas eu odeio quando você insinua que sou dissimulada, que sempre fui. Eu te odeio tanto, Carlos, eu odeio o fato de ter me entregado a você, na mais asquerosa concepção de se entregar a alguém. Falando no teu apartamento, me explica aquela sua cozinha, Carlos. Não tem um armário que feche, as paredes tem no mínimo três centímetros de gordura e você deve ferrar com a caixa de gordura do prédio, com tanta porcaria que joga pelo ralo. Sabe, eu até sentia bastante prazer em lavar tua louça. Mas, poxa, tinha prato de mais de três dias, ou muito secos, com a comida toda grudada, ou um ecossistema de esgoto em cima da pia. Ai, Carlos, você não sabia fazer café. Lembra que eu te ensinei? E te ensinei a cozinhar arroz, também. Teu feijão era gostoso, o melhor que já comi na vida. Teu abraço, também. E teu beijo, embora não sem ressalvas: você podia explorar melhor a língua. Fica a dica pra quando você for pegar as próximas loucas. Todas são doidas, né, Carlos, quanta coincidência! Ai, eu pensei que fosse me esvaziar dizer tudo isso, mas está me cansando. Como eu me cansei de você e da sua mediocridade. Da sua vidinha pobre de submundo existencial. E tem mais, Carlos Alberto: seu nome é escroto."

Texto de autoria de Sâmia Mounzer, num grande momento de inspiração.

Confesso que já li 3 vezes!

Valeu ex-tagiária!

E visitem tb o Nocturnas Horas.


Até ano que vem!

Laura

terça-feira, 28 de julho de 2009

LAY, NÃO VOU BUSCAR O MEU CACHORRO!

Sim, eu passei por uma época muito conturbada e não faz muito tempo não. Um ano e pouquinho, por alto. Tinha até um cãozinho lindo - o Ringo - que ganhei do meu pai, dizendo que era uma presentinho só pra lembrar dele enquanto eu passava os dias aqui na cidade grande. Realmente, eu sentia muita falta de Bom Jardim e tive quando criança um bichano igualzinho ao Ringo, de nome Bingo, em uma fase muito boa e tranquila. Comidinha da mamãe, cidadezinha pacata, sem preocupações pra ganhar o pão de cada dia.
Eu sempre amei cachorros. São boas companhias sim, recomendo que todos um dia tenham um que abane a rabiola pra quando você chegar em casa. É um alvoroço que só! Então, voltamos ao Ringo Star... uma graça de se ver. Passamos bons momentos juntos, até chegarem os problemas que me impediram de continuar com ele aqui em casa. Resolvi então deixá-lo com uma pessoa de confiança e que morasse por perto, afinal, o bichano poderia ter ou dar problemas, né? A Layana era a pessoa certa pra missão com o meu animalzinho de estimação. Nos conhecemos lá no estágio e desde então saímos juntas pra vários lugares em comum acordo. Ela não titubeou em ser babá de Ringo por uma semana, até porque achou que seria uma boa diversão para o João, filho dela. Pronto, problema canino resolvido. Mas o meu não, que perdurou por mais um mês. No mesmo mês que arranjei um namorado, não aquele do cavalo branco, mas um barbudinho que me fazia bem feliz. A partir dele, as coisas começaram a melhorar. Tanto que trocamos até alguns presentes no dia dos namorados, em junho do ano passado.
O meu presente pra ele foi um pandeiro de couro de cabra, feito por um Luthier (artesão de instrumentos) lá da Mangueira, sua escola de samba do coração. Ele por sua vez, me deu outro cachorro. Era um Colie lindo, igual à Lessie do filme dos anos 90! Já veio até com correntinha e devidamente batizado – Bernardo, Berne para os íntimos.
A questão é: o apartamento aqui é pequeno, eu divido com mais três pessoas e ainda tem o Bernardo. Só que tem também o pobre do Ringo lá na Lay...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

LAVOURA

"Quatro da manhã
Dor no apogeu
A lua já se escondeu
Vestindo o céu de puro breu
E eu mal vejo a minha mão
A rabiscar esboço de canção

Poesia vã, pobre verso meu
Que brota quando feneceu
A mesma flor que concebeu
Perdido na alucinação
Do amor acreditando na ilusão
Canto pra esquecer a dor da vida

Sei que o destino do amor é sempre a despedida
A tristeza é um grão
Saudade é o chão onde eu planto
Do ventre da solidão é que nasce o meu pranto."

Essa é da Teresa Cristina e Pedro Amorim.
Música boa de se entender e escutar.
E parir o pranto (ê filho prematuro e bastardo de mãe solteira).

Para assistir o vídeo (sensacional por sinal, no vocal de Roberta Sá), clique AQUI!

Até.

domingo, 19 de abril de 2009

O AMOR QUE A VIDA TRAZ

Sensacional textinho da Martha Medeiros. Só lendo pra ter noção. Have fun!

O AMOR QUE A VIDA TRAZ

"Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo até modesto.
O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja pra assistir em casa, no DVD. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um emprego seguro. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.
Aí a vida bate à sua porta e entrega um amor que não tem nada a ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, adeus.
E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada o amor solicitado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você havia encomendado, mas a vida, que é péssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse nonsense, esse amor que você desconfia que nem lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica, não se experimenta em loja – ah, este me serviu direitinho!
Aquele amor discretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém para o qual um amor discretinho costuma ser desprezado, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, um prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor que você encomendou não veio, parabéns! Aproveite o que lhe foi entregue por sorteio."
Não disse que era bom???????

sábado, 4 de abril de 2009

Ciclo

O décimo oitavo dia do mês já se aproximava e tudo que lhe vinha à cabeça era:

- Onde será o lugar mais perto pra comprar aquela barra de chocolate ao leite???

E assim seguiu abrindo a geladeira repetidas vezes, os armários, revirava os enlatados e até os pacotes de miojo no fundo da gaveta.

- Que merda! Nenhum doce! Nenhum chocolate... - E assim resmungando, continuou procurando por qualquer item glicosado.

Acendia mais um cigarro. Apagava. Escutava uma música, lia um pouco do jornal, reparava no ponteiro do relógio passar. Aliás, tudo passava... menos a vontade do maldito derivado do cacau.

A preguiça era maior do que sua gula. Só de ter que pensar em trocar de roupa (seus trapos caseiros não condiziam com um possível encontro ao acaso numa esquina qualquer, com um moço formoso....), tirar dinheiro no banco e talvez esperar aquele velhinho que resolve ir pagar a conta na sexta feira à noite desocupar o caixa eletrônico, andar até a rua seguinte, ir para o supermercado, enfrentar a gigantesca fila que se forma atrás da atendente lerda (que se recusa a dar um único sorriso)....

- Ai, definitivamente não! Sem condições dessa peregrinação por um mísero chocolate.

Pronto. estava irredutível. Ficaria em casa se corroendo com sua vontade que ia crescendo cada vez mais. Mas tudo bem.... o dia já estava terminando e tudo que tinha que fazer, era esperar o sono chegar, para que junto a ele adormecesse sua compulsão pela tal gordura hidrogenada.

A porta do quarto ao lado se abriu. Sua amiga havia acordado. Arrastou o pé pelo corredor, pegou a toalha no varal com os olhos ainda inchados de dormir, tomou banho, trocou de roupa, escovou os dentes, pegou a chave para abrir a porta e disse:

- Querida, estou morrendo de fome e vou ao mercado. Quer alguma coisa lá de baixo?

E assim se fechava mais um ciclo hormonal.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Unhada nos olhos

Foi tão sagaz, que com um simples estalar de dedos acertando um de seus olhos, interrompeu o próprio pensamento.

Por um segundo, o turbilhão de idéias se esvaiu e tudo que conseguia pensar era:

- Ai, que dor!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Angústia

Carnaval já passou e as boas lembranças ficaram pra alguns (e certamente, pra mim também). Enfim, eis que na sexta feira que precedia a grande data, eu e minha companheira de samba e bebericagem, Natália, esperávamos por um bloco de carnaval ali em Botafogo. Paramos num barzinho - bem pé sujo por sinal - e depois de alguns goles, saquei o bloquinho e a caneta, com o intuito de escrever algo, já que a sensibilidade estava aflorada. Junto com os papéis, surgiu um galo (juro!) no bar que estávamos. Pronto. Só disso que precisava.... fonte de inspiração. Então, assim surgiu a composição que está com a melodia já sendo criada também. Aguardem nas principais rádios em 2010!!!!

Angústia


Um galo me acorda e eu ainda estou no bar
A espera daquele moço
Que vem pra me confortar

O bicho continua cantando
E eu ainda não saí do lugar
Minha angústia nessa espera maldita
Que me fez apaixonar

Oh, dúvida que me aflige
Não sei onde ele está
Será que até quarta feira eu hei de encontrar?

E no final do carnaval
Esse meu mal há de acabar
Se ele não aparecer, meu peito vai esmorecer
Mas se ele chegar, ah eu vou me acabar!!

Laialaiá, meu samba vai até de manhã
Laialaiá, quem disse que a vida é sã? (2X)

LAURA REIS
NATALIA HOLANDA